Distante, Berlim, Janeiro 2024
A vida do espírito pode ser representada graficamente como um grande triângulo de ângulo agudo, dividido horizontalmente em partes desiguais, com o segmento mais estreito na parte superior. Quanto mais baixo for o segmento, maior é a sua largura, profundidade e área. O triângulo inteiro move-se lentamente, quase invisivelmente, para a frente e para cima. Onde o vértice estava hoje, o segundo segmento estará amanhã; o que hoje só pode ser entendido pelo vértice, será amanhã o pensamento e o sentimento do segundo segmento.
No vértice do segmento mais elevado encontra-se frequentemente um homem. A sua visão alegre é a medida da sua dor interior. Mesmo aqueles que estão mais próximos dele não o compreendem.
– Wassily Kandinsky, Do Espiritual na Arte, 1912
A Pintura tem origens antigas, que remontam a dezenas de milhares de anos, ou talvez mais. Os primeiros seres humanos criaram pinturas em grutas utilizando pigmentos naturais e as suas mãos para fins sagrados e comunicativos.
A evolução da Pintura é uma interação complexa de culturas, tecnologias e indivíduos notáveis que fizeram avançar a disciplina. Existe uma irrepetibilidade e carácter de improviso, uma dimensão ritualística. Trata-se da expressão de mundos interiores através do corpo. A inteligência artificial nunca vai substituir a verdadeira Pintura. Esta vive em impulsos, erros, correcções e marcas irreproduzíveis. O inconsciente de um artista fala através dos seus rastos numa superfície.
O Observ trabalha em zonas liminares entre o figurativo e o abstracto, a memória e o imaginado. Nas suas obras, encontramos encontros, descobertas, transições, transformações e incertezas da vida adulta. O Êxtase e o desgosto, a paternidade e a morte.
A linguagem que foi construíndo consistentemente convida o observador a engajar-se com o trabalho a um nível mais profundo. Nesta série de trabalhos surgem fragmentos de lugares arquetípicos: montanhas, dunas e florestas. As geografias representadas são privadas, territórios do trauma só encontrados por quem se atreve a caminhar longe de olhos fechados, sem bússola. Um mapa é construído através de pigmentos aplicados numa face em carne viva. Largura, profundidade e área são atributos do espaço, do qual a Arquitectura é a disciplina fundamental. Plano, região, extensão; o Pedro pinta arquitecturas do espírito.
A estrutura mais primoridal que conhecemos é a caverna. O seu invólucro natural, escuridão e mistério tornou-a no espaço simbólico que representa o útero da Mãe-Terra e a origem da vida. A descida para um destes abrigos é uma viagem para as profundezas do inconsciente e do desconhecido. É da cave iniciática que vem toda a História da Pintura e de lá emerge a pintura do Observ.
– Distante, Berlim, Janeiro 2024
