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Dissoluções de mim Desenhos de Pedro António Janeiro

Só se dissolve aquilo que está sólido, portanto, o que é solúvel é o que às vezes desaparece, continuando a lá estar, invisível e em silêncio, mas lá.
Eu decidi chamar à exposição no Guarda Jóias, Dissoluções de Mim, porque estes meus desenhos não estão terminados deliberadamente, eles, na sua execução, dissolveram-se, desapareceram, mas – por paradoxo -, surgem, e assim, a anatomia dos corpos atravessam o plano de representação – ora na profundidade conquistada à opacidade do campo visual, ora para além dela até ao espectáculo do olhar atento. Qualquer coisa de intermédio.

A linha é a mesma, do ombro ao cotovelo que passa a ser braço e depois antebraço ou mão ou perna. A linha é sempre a mesma, como a mão que a produz, alternado na força com que é produzida. O traço alterna, mas a linha contínua, como que costurada a fazer a coisa vista.

E, assim, a linha faz o desenho, faz o corpo, casas ou flores.
O desenho é um caminho, a linha que começa num ponto vai dar a um outro ponto qualquer – define o que eu quero, vejo e sei, e, decido, quando a paro. O nascimento e a morte expectável da linha.

Dissolvo certas coisas que até as podia finalizar com as linhas ausentes, mas não é preciso – porque conseguimos sub-entendê-las e até entender se estão encostadas, apoiadas ou em momento de tensão ou de relaxamento. Mais um traço e seria demais (e estou a sobrecarregar informação), menos um traço e quase se tocaria no absurdo do realismo enquanto, de extremo a extremo, figuratividade.
Nesta exposição, o meu exercício como desenhador é que nada se torne imperceptível aos olhos, no meu entendimento no fixar destes instantes, e, isto, na fracção mínima do acontecer temporal enquanto esperando que o outro preencha o-que-falta.

Pedro António Janeiro, 7 de Agosto de 2024

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